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Como Visitar a Transnístria: o País Soviético que Não Existe!!

Visit Transnistria

TransnistrianRegionMapTransnístria (também conhecida como Trans-Dniester ou Transdniestria). Embora seja independente, tenha sua própria moeda, exército, instituições públicas e até mesmo passaportes, grande parte do mundo não tem ideia de que esse país exista. É um país autodeclarado, um estado separatista da Moldávia que não é reconhecido por nenhum outro país do mundo. Segundo a ONU, a Transnístria faz parte integrante da Moldávia e é reconhecida por outros países como tal. Para entender como a Transnistria surgiu devemos voltar no tempo para o período da União Soviética.

História

Do fim da Segunda Guerra Mundial até o início da década de 90, a Moldávia foi parte do Império Soviético. Com o colapso da União Soviética no início dos anos 90 a Moldávia tornou-se um país independente. Apesar disso, um grande conflito permaneceu no país uma vez que aqueles ao leste do rio Dniestr, a maioria dos quais eram de ascendência russa e ucraniana, declararam-se independentes do resto da Moldávia por se sentirem mais aliada aos interesses russos. Devido a essa divergência houve uma breve guerra civil em 1992. Graças ao apoio do 14º Exército Russo que estava baseado dentro da Transnístria, o resultado desta guerra foi a que a Transnístria conseguiu manter a sua independência do resto da Moldávia.

Desde o fim da guerra e da criação deste peculiar “país”, houve todo o tipo de rumores sobre negócios obscuros nesse território, como o tráfico de pessoas, o comércio de órgãos, drogas e esteroides. Uma das estórias mais conhecidas (e possivelmente a única razão pela qual algumas pessoas já ouviram falar da Transnístria) é a do famoso traficante de armas retratado no filme o “Senhor das Armas” (Lord of War), Viktor Bout, que obtém a maior parte de seu armamento pesado desviando do 14º Exército Russo na Transnístria.

Diz a lenda que com o súbito colapso da União Soviética, uma grande parte do controle sobre o arsenal menos sofisticado foi perdido. Aproveitando-se desta situação, Bout supostamente teria usado da sua influência como ex-oficial do Exército Soviético para ter acesso a uma parte desse armamento deixado na Transnístria.

Pode parecer estranho que alguém quisesse visitar um lugar como este, mas como agora eu estou estudando Relações Internacionais e para mim qualquer viagem é uma boa viagem, visitar um lugar assim e conhecer melhor uma micro disputa geopolítica seria uma experiência única.

Chegando lá

Para realizar essa tarefa eu fui a Moldávia. Esta é provavelmente a maneira mais fácil de entrar na Transnístria embora também seja possível entrar pela Ucrânia.

Se você estiver hospedado na capital da Moldávia, Chisinau, você provavelmente estará perto de Praça da Catedral e da principal avenida da cidade “Bulevardul Stefan cel Mare”. Para visitar a Transnístria você deve ir até a estação central de ônibus em Chisinau que fica a 10 minutos a pé da Praça da Catedral. Ou você pode tomar um ônibus local que custa só 2,00 Leu moldávio (US$ 0,15)!!

Quando você chegar a estação central de ônibus é só perguntar a qualquer pessoa por “Tiraspol” (esta é a capital da Transnístria) e eles vão te mostrar a marshrutka (espécie de van) correta. A bilheteria está perto das vans estacionadas na parte detrás da estação. Paguei 36,5 Leu moldávio (US$ 2,70) pela passagem de ida. Normalmente há marshrutkas entre as duas capitais a cada 30 minutos.

A viagem demora um pouco mais de 1 hora uma vez que a van vai pegando passageiros ao longo da estrada. Lembre-se que você deve levar o mesmo passaporte que você usou para entrar na Moldávia. 

Balcão de passagem para Tiraspol

Imigração

Depois de 40 minutos na van você vai começar a chegar perto da “fronteira”. Uma vez que a Moldávia não reconhece esta província separatista como país, eles também não reconhecem que há uma fronteira entre eles. Assim, as últimas autoridades do lado da Moldávia não são os guardas de fronteira, mas “policiais normais”.

Depois de passar pelo controle de fronteira da Moldávia, você verá os “capacetes azuis” russos com seus tanques e fuzis Kalashnikovs. Eles usam boinas e capacetes azuis, como soldados da ONU, mas sem o emblema da ONU. Seu status real é disputado uma vez que eles não fazem parte de qualquer missão da ONU. Eles não estão sob o mandato das Nações Unidas e de acordo com a maioria dos países ocidentais eles estão lá em violação à soberania da Moldávia.

Por outro lado, a Rússia afirma que sua presença lá faz parte de um acordo de cessar-fogo de 1992 entre a Moldávia e a Transnístria, assegurando que eles estão nesse território para evitar um conflito entre ambos os lados. Isso é estória para boi dormir, pois provavelmente em caso de conflito os canos das armas dos capacetes azuis só apontariam para uma direção. 

Passando as tropas russas você chegará ao controlo de fronteiras da Transnístria onde todo mundo tem que sair da van para ter os seus documentos verificados. Lá fora tudo é controlado pelos rigorosos olhos da polícia, mas dentro do escritório da imigração a situação é meio bagunçada com pessoas empurrando na fila para receber seus documentos de entrada. Você terá que perguntar ao funcionário do segundo escritório de imigração por um pedaço de papel para preencher com suas informações básicas.

Se você for ficar menos de 10 horas na Transnístria o procedimento é simples. Com o formulário preenchido você terá que ser um pouco agressivo devido à bagunça para ser capaz de entrega-lo junto com o seu passaporte ao agente. Ele te perguntará quanto tempo você vai ficar lá e, em seguida, vai te dar de volta a outra metade do papel que você preencheu.

Não se preocupe, o seu passaporte não será carimbado, só este recibo de entrada será carimbado. Não perca esta metade pois você vai precisar dela caso alguém peça seus documentos na rua ou quando você estiver voltando para Moldávia. Se você for ficar mais de 10 horas o processo é um pouco mais longo pois uma vez na Transnístria você terá que registrar-se com o Ministério do Interior.

Ouvi dizer que algumas pessoas tiveram que pagar suborno aos guardas de fronteira da Transnístria. Eu, pessoalmente, não vi nada disso acontecer, mas recomendo ir para fronteira com um pouco de trocado no bolso separado do resto do seu dinheiro caso você precise pagar um “cafezinho” ao guarda. 

Passando a imigração você vai voltar para a sua marshrutka e continuar a viagem. Pouco tempo depois você vai chegar à principal ponte que cruza o rio Dniestr. Foi nessa ponte que ocorreram as famosas imagens do conflito de 1992 quando tanques russos cruzaram para o lado da Moldávia. Hoje, no entanto, essa é mais uma área com checkpoint de tropas russas.

 

Visitando Tiraspol

Você até pode descer no meio do caminho antes da parada final mas eu desaconselho caso você não conheça a região. É melhor ir até o ponto final que é a estação de trem e “ônibus” e descer por lá. Assim você saberá onde pegar a marshrutka para voltar para Chisinau. Você terá que caminhar uns 15 minutos até chegar ao centro e à avenida principal onde estão todos os grandes monumentos. Eu e uma cara americano que conheci no albergue fomos perguntando “centro” para galera na rua até chegar onde queríamos. Mas como quase ninguém fala inglês acabou demorando um pouco. Porém, como eu sou muito bonzinho, vou preparar um mapa com o percurso para você.

Mapa de Tiraspol

Você também pode obter o dinheiro local em qualquer um dos vários caixas eletrônicos ou casas de câmbio pela cidade.

Uma vez no centro de Tiraspol você vai chegar à avenida principal “25 de outubro”.  De um lado você verá a imponente estátua de Lenin, o ex-líder comunista da União Soviética. Do outro lado existe um velho tanque soviético com as clássicas letras CCCP que era a abreviatura em Cirílico da URSS. Continuando pela avenida há o memorial às vítimas do conflito 1992, bem como outros símbolos nacionalistas como bandeiras e estrelas vermelhas comunistas.

Tudo parece quase deserto, sem muitas pessoas, lojas e menos carros do que você esperaria em uma grande avenida central. Você deve ter cuidado ao tirar fotos, especialmente da estátua de Lenin. Enquanto eu estava tentando tirar uma foto um soldado saiu do edifício de trás e fez um gesto claro para eu parar. Eu até entendo essa atitude do soldado já que não existem outros turistas na região e eles não estão acostumados a ver pessoas fotografando monumentos. Para eles qualquer pessoa tirando fotos pode ser um espião da Moldávia.

Tentei puxar um papo com os locais na rua mas a maioria deles não falava Inglês. É um pouco mais fácil de ter algum tipo de interação com os jovens pois eles são geralmente mais curiosos sobre os estrangeiros. A principal pergunta deles era sempre a mesma: “Que diabos você está fazendo aqui?”. Isso porque realmente eles não estão acostumados a ver forasteiros.

Também me foi dito que basicamente todo munda na Transnístria tem dupla cidadania, normalmente da Rússia, Ucrânia ou Moldova, pois caso contrário eles seriam apátridas (sem país), uma vez que o passaporte da Transnístria não é reconhecido em nenhum outro lugar do mundo. Além disso, eu aprendi que um país nessa situação só consegue sobreviver porque tem o apoio econômico e militar total da Rússia, o que era bem óbvio por todos os produtos e marcas russas que eu via nas lojas em Tiraspol. 

Acomodação

Eu não dormi na Transnístria mas para achar acomodação lá é só seguir o mesmo processo como se você fosse achar em qualquer outro lugar do mundo. Dê uma olhada na minha página com os 6 melhores e mais baratos sites de viagem para pesquisar e reservar hotéis e albergues que aí fica fácil. Apenas lembre-se de colocar o país como Moldávia quando estiver procurando por albergues na Transnístria. Depois coloca a cidade que você quer, normalmente Tiraspol. A mesma coisa funciona para o Couchsurfing. 

Voltando para casa

A última marshrutka volta para Chisinau por volta de 6:30 PM então certifique-se de voltar ao terminal de ônibus antes disso. Se você chegar no último minuto provavelmente vai ter de viajar de pé pois ela sai lotadassa!! Você pode comprar o bilhete de volta no lado esquerdo da estação de trem. Os bilhetes custam cerca de 44 Leu moldávio (US$ 3,27) ou o equivalente em moeda local.

Para cruzar a “fronteira” no caminho de volta é muito rápido. Você nem precisa desembarcar, eles só vão pedir o seu passaporte e a metade do formulário branco que você recebeu na entrada.

Deixando esse estranho “país” no final do dia eu me perguntava quanto tempo esta situação bizarra iria durar. Em novembro de 2013, a Moldávia assinou um acordo de associação com a UE, o que geralmente representa os primeiros passos para uma futura adesão plena com a União Europeia. No entanto a Transnístria tem dito que não tem interesse na UE e prefere uma associação com a Rússia. Essa mesma conjuntura levou ao distúrbio civil que estamos vendo na Ucrânia. Esperamos apenas que a mesma situação não acontece na “fronteira” entre a Moldávia e a Transnístria, porque, ao contrário da Ucrânia, há muito mais armas disponíveis e as consequências podem ser terríveis.

 

Passeios, atividades e excursões para realizar na Transnístria

Se está em busca de atividades e passeios para realizar na Transnístria, eu recomendo que procure no GetYourGuide e no Viator. Esses sites possuem ótimos passeios a preços justos, e excursões que vão desde algumas horas até alguns dias. 

 

GetYourGuide

 

 

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Escreva- me por favor se você tiver qualquer pergunta ou dúvida sobre esse artigo e eu tentarei te responder da melhor forma possível. Aceito também críticas e conselhos para melhorar esse artigo.

Boas viagens!!

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