Entre Polos

Uma Visita a Fortaleza da Antiga Cidade de São João de Acre, Israel

Neste mês o Projeto 8on8 tem como tema “surpresas de viagem, não estava no roteiro mas foi uma bela descoberta”. Gostei muito do tema, pois em uma das minhas últimas viagens conheci a cidade de Acre, Israel, uma cidade portuária no Mar Mediterrâneo.

Na realidade, ela estava no roteiro da viagem, mas eu não havia lido nada sobre ela antecipadamente, então foi tudo uma grande surpresa. Eu que normalmente planejo muito detalhadamente minhas viagens, fiquei muito satisfeita por ter conhecido uma cidade tão importante historicamente.

Acabei lendo mais agora sobre a história de São João de Acre para poder escrever este post e passar um pouco mais de informações, além de motivar você a visitá-la. Ela não aparece muito nos roteiros para a Terra Santa, mesmo que em 2001 a Cidade Antiga de Acre tenha entrado para a lista do Patrimônio Mundial da Unesco.

A história da cidade é longa e riquíssima, já começando pelo seu nome, o qual foi alterado muitas vezes no passar do tempo. No antigo testamento ela é citada como Accho. Durante a Idade Média, quando ela teve um papel central na história da humanidade, foi chamada de São João de Acre. Atualmente ela é conhecida como Acre, pelos ocidentais, Akko em hebraico e Akka em árabe.

A história mostra que a cidade tem sido habitada desde os tempos dos fenícios (3000 a.C.) e continuou passando por diversas culturas como grega, romana, dos cruzados e árabes. Além disso a cidade é sagrada para fé Baha’i, sendo que o Jardim Bahá’í do Acre também faz parte da lista de Patrimônio Mundial da Unesco.

Atualmente a cidade tem uma cultura mista, sendo que na Cidade Velha de Acre vivem harmonicamente muçulmanos e cristãos e na Cidade Nova, principalmente os judeus, mas nos demais bairros a população é mesclada, inclusive residindo nos mesmos edifícios.

Os idiomas falados na cidade são basicamente o hebraico e o árabe, mas é fácil ouvir outras línguas sendo usadas nas ruas, por conta de muitos imigrantes vindos do leste da Europa.

Conhecendo a Cidade Antiga de São João de Acre

Lamentavelmente não pude passar muito tempo circulando pela cidade, pois estava em uma excursão, mas certamente é um lugar que vale a pena ser visitado por um período maior.

A Cidade Antiga de São João de Acre foi utilizada pelos cruzados entre 1104 e 1291, como um quartel general na Terra Santa, para dali partirem para o combate em Jerusalém e outros locais.

Nessa passagem rápida fui conhecer o ponto de maior interesse na cidade que é a Fortaleza dos Cruzados. 

Escavações recentes mostram como a fortificação permaneceu quase intacta abaixo do nível das ruas da cidade.

Só pra relembrar um pouquinho da história: as Cruzadas foram aqueles movimentos de inspiração cristã que aconteceram entre os séculos XI e XII.  Sendo que os cruzados partiam da Europa em direção à Terra Santa com o intuito de retoma-la do domínio muçulmano.

O termo Cruzada não era usado naquela época e sim outras expressões como Guerra Santa e Peregrinação. Somente mais tarde, devido as cruzes que aqueles cavaleiros usavam nas roupas é que os movimentos receberam o nome de Cruzadas.

As ordens religiosas Templários e Hospitalários foram criadas naquele período. Sendo que São João de Acre foi habitada pelas duas ordens, contudo os Hospitalários chegaram a ser seus governantes.

Os Hospitalários começaram como uma ordem devotada à caridade, dedicando-se a cuidar dos doentes e peregrinos a caminho da Terra Santa. Porém, logo abraçaram a causa das cruzadas e se tornaram uma das maiores ordens. Existem até hoje como Ordem de Malta e é uma organização humanitária.

Período das Cruzadas

Primeiro uma pequena cronologia dos acontecimentos que envolveram a cidade para a gente se situar na história:

Durante minha visita, fiz um tour panorâmico pela cidade e conheci as atrações mais importantes, como o Salão dos Cavaleiros Cruzados na Cidadela e a Fortaleza dos Hospitalários.

Complexo de São João de Acre

Esse complexo foi todo construído pelos Hospitalários e só nas últimas décadas, depois das escavações é que o poder e a riqueza dessa ordem foi revelado. Imagina-se como deve ter sido agitado esse centro da organização militar 800 anos atrás.

Contudo, Acre não foi apenas o quartel geral militar, mas também um grande centro financeiro. Os cavaleiros não estavam ali apenas pela guerra santa. Os Hospitalários recebiam imensas doações dos nobres europeus e por essa razão puderam construir algo tão fenomenal. Mas também se envolveram com o comércio e a manufatura de produtos.

Eles estavam tão bem estruturados, que acabaram se tornando os bancos da Europa, podendo realizar movimentações financeiras. Presume-se que foi nesse período que o uso do cheque bancário foi utilizado pela primeira vez. Acre possuía até sua própria moeda, cunhada lá mesmo.

Apesar da guerra entre as duas sociedades (islã e cristã) o comércio realizava-se e crescia cada vez mais. Fortunas foram geradas e era interessante manter o status quo.

 

Reino dos Cavaleiros

Recentes escavações arqueológicas revelaram um complexo de salões construídos e usados pelos Cavaleiros Hospitalários. O complexo inclui seis salas semi-unidas, uma masmorra, uma sala de jantar e a cripta de uma antiga igreja gótica.

O museu exibe filmes projetados nas paredes que contam a história das Cruzadas e oferecem vastas informações históricas sobre as diversas épocas. Além disso, existe um sistema de audio onde você ouve sons característicos da época.

Fora isso o complexo ainda inclui lojas e um mercado de artes e artesanato, com artesãos da época das Cruzadas, oferecendo seus produtos: como ferreiros, sopradores de vidro, ceramistas, tecelões, bordadeiras, artesãos de couro, perfumes e óleos.

Cidadela de Acre

A Cidadela que vemos hoje é uma fortificação otomana, a qual foi construída sobre as fundações da antiga Cidadela dos Cavaleiros Hospitalários.

A cidadela fazia parte da formação defensiva da cidade, reforçada pela muralha da cidade. Durante o século XX, a cidadela foi usada principalmente como prisão. Durante o período do mandato britânico, ativistas dos movimentos de resistência sionistas judeus foram mantidos presos lá e muitos foram executados.

Muitas personalidades famosas como Bahá’u’lláh e o primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, foram aprisionados ali.

 

Escavações da Cidade Antiga de Acre, Israel

A primeira escavação do Complexo dos Hospitalários aconteceu em 1921 durante o Mandato Britânico na Palestina e revelou o andar superior do Salão dos Pilares.

Em 1947 prisioneiros judeus que cavavam um túnel a partir da suas celas localizadas na parte superior do complexo, acabaram revelando uma abóbada de um dos salões, (e não conseguiram fugir).

Mais escavações aconteceram nos anos que se seguiram, agora orientadas pelo Departamento de Antiguidades de Israel, revelando cada vez mais tesouros escondidos, o que levou ao reconhecimento da Unesco.

Até hoje escavações e obras de preservação continuam em andamento, tornando Acre um centro de arqueologia reconhecido internacionalmente.

Salão das Colunas

Esta é a parte mais impressionante do complexo. Foi descoberto em escavações realizadas na década de 1960. O salão de 10 metros de altura consiste em um conjunto de oito abóbadas e é sustentado por três colunas redondas de pedra com um diâmetro de cerca de 3 metros. Os capitéis das imensas colunas são decorados com guirlandas de flor de lis.

O edifício é considerado uma das estruturas que simbolizam a transição do estilo românico para o gótico. Sendo que os dois principais elementos da arquitetura gótica já pode ser observada aqui, o arco ogival e a abóbada em cruzaria.

Imagina-se que esse prédio serviu como sala de jantar para a Ordem dos Hospitalários e que ao lado encontra-se uma cozinha que ainda precisa ser escavada. Sendo que um sistema de coleta de água de chuva já foi descoberto sob a sala de jantar.

Salão dos Pilares

Este é um salão monumental, com cerca de 1300 m2. A estrutura consiste em arcos com abóbadas de 8 metros de altura e sustentadas por pilares quadrados de pedra dispostos em fileiras ao longo do edifício.

A seção principal deste teto abobadado cruciforme foi preservada em sua forma original, que remonta ao período dos cruzados, enquanto outras partes do teto do salão desabaram e foram restauradas recentemente. Acredita-se que o salão serviu como local de armazenamento para os cavaleiros da ordem.

Pátio Central da Fortaleza de São João de Acre

O pátio era o centro de todos os edifícios da ordem, sendo cercado por uma série de arcos que sustentavam escadas e um corredor que levava a salas no segundo andar. Certamente era a principal área do dia a dia dos membros da ordem. Ali os Hospitalários podiam praticar suas técnicas de combate, sendo que era costume treinar três vezes por semana.

Jardim Encantado

Este jardim serve de recepção para o Complexo dos Hospitalários e da Cidadela. O espaço com uma vegetação exuberante fazia parte do palácio do governador Al-Jazzar no período do Império Otomano, hoje abriga o Centro de Visitantes, banheiros e a bilheteria.

O valor dos ingressos é bem variado, pois como o complexo é grande, você pode combinar vários espaços em um só ticket. Clique para checar o valor do ingresso e os horários de visitação. 

Outros locais que você pode visitar dentro do complexo incluem:

Túnel dos Templários – Após a conquista de Jerusalém por Saladino, os templários se estabeleceram no Acre. O túnel, descoberto em 1994 possui 150 metros de comprimento e se estende da fortaleza dos Templários, até o porto da cidade, servia como passagem subterrânea estratégica para fuga pelo mar, caso fosse necessário.

Banho Turco – o qual foi construído no final do século XVIII como parte da transformação do Acre durante o período otomano de uma pequena vila de pescadores em uma cidade portuária e em um importante centro de construção e comércio.

Museu Okashi – o museu leva o nome de um dos fundadores do movimento New Horizons, um grupo de artistas que se formou em Israel após a Guerra da Independência. Suas obras compõem a exposição permanente.

 

Como chegar em Acre, Israel

Eu estava participando de uma excursão por Israel, mas vou deixar aqui as formas mais fáceis de chegar na cidade.

Trem – A Israel Railways é a única companhia de trens em Israel e possui vários horários partido de Tel Aviv, do Aeroporto Ben Gurion e de Haifa.

Ônibus – A empresa Egged tem ônibus com vários horários saindo de Haifa e a empresa NTT tem ônibus saindo de Nazaré. Tive um dia livre enquanto estava em Jerusalém e por conta própria peguei um ônibus para Tel Aviv, então posso dizer que comprar passagens e andar de ônibus em Israel é muito simples.

Ferry – A novidade por lá é esse ferry entre Haifa e Acre e vice-versa. A navegação acontece apenas na segunda, terça, quarta e sábado e parece ser uma ótima experiência.

Carro – Alugar carro não é uma boa opção pois existe bastante dificuldade de estacionamento na cidade.

Obs.: Todas as empresas que citei acima possuem site em inglês, mas se preferir você pode conferir o site da Get Your Guide em português e já sair com seus passeios reservados e pagos aqui no Brasil.

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Leia também o que as minhas colegas que participaram este mês, tiveram de surpresas agradáveis em suas viagens:

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