Recentemente fui encorajada por uma amiga a escrever um pouco sobre os pontos turísticos de Joinville e outras regiões aqui de perto.
Não são muitos os pontos turísticos de Joinville, mas mesmo assim fiquei meio sem saber por onde começar. Com a aproximação do dia de finados, me ocorreu iniciar esta série por um local que eu acho muito peculiar: O Cemitério do Imigrante.
Considero o Cemitério do Imigrante singular e com grande potencial turístico. Pelo fato de ter sido formado por imigrantes teutos e ser repleto de lápides escritas em alemão (pouquíssimas são em português). Também pode ser considerado um dos primeiros cemitérios laicos do Brasil. No princípio, ele serviu para abrigar protestantes e católicos.
Os cemitérios brasileiros, de modo geral começaram a registrar os sepultamentos após 1840. São poucos os que ainda existem nas grandes cidades. Na maioria dos casos os restos lá sepultados, foram transferidos para cemitérios mais novos.
É ótimo ver que em Joinville ainda existe um cemitério tão antigo e com uma história tão pitoresca. O Cemitério do Imigrante foi tombado como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1962. Razão suficiente para conhecê-lo, preservá-lo e divulgá-lo. O Cemitério do Imigrante esteve ativo para sepultamentos de 1851 a 1913.
A história do Cemitério e a Colônia Dona Francisca
A colonização de Joinville foi um empreendimento da Companhia Colonizadora de Hamburgo. A colonização começou oficialmente com a chegada dos primeiros imigrantes em 09 de março de 1851.
As dificuldades iniciais para a estruturação da nova colônia em um ambiente tão diferente levou muitos imigrantes a adoeceram. Consequentemente, houve vários óbitos logo nos primeiros meses. A demarcação de um terreno para um cemitério foi essencial. O local destinado era no primeiro trecho da Schweizer-Pikade, hoje Rua XV de Novembro, bem centro da cidade.
Turismo em Cemitérios: Prática comum em várias cidades
O turismo em cemitérios tem sido um forte atrativo em muitas cidades do mundo. Não apenas para conhecer os túmulos de personalidades ou apreciar obras de arte. Mas também para desfrutar de um local tranquilo, muitas vezes com jardins arborizados.
Um bom exemplo é o Cemitério do Pére Lachaise em Paris, que era um bosque e não perdeu essa característica desde a sua construção no século XIX. Ele é hoje, um dos pontos turísticos mais visitados de Paris. O Cemitério do Imigrante em Joinville segue a mesma topografia, em aclive com caminhos curvos e arborizados.
É fácil perceber que os túmulos mais antigos estão no topo do morro e que o traçado original quase não sofreu alteração ao longo dos anos. A grande maioria das cabeceiras dos túmulos está voltada para o sudeste e, apenas algumas, para o noroeste.
Existe um pequeno livro intitulado História do Cemitério dos Imigrantes e da Casa da Memória do Imigrante, onde além da história do cemitério, são contados fatos curiosos relacionados a ele. Como um caso de um amor impossível, mas que quis o destino que os amantes acabassem enterrados em túmulos vizinhos.
Várias Culturas
Além de abrigar entre seus moradores eternos, as figuras ilustres da história joinvillense, também recebeu pessoas simples, incluindo alguns escravos. Havia uma lei do Império que proibia que os colonizadores possuíssem escravos. Contudo, algumas das famílias luso-brasileiras que se mudaram para a nova colônia os possuíam. Esses escravos em 2009 receberam uma única lápide simbólica, contendo os 14 nomes daqueles que ali repousam. Com isso, o cemitério passou a ser mais um local onde se podem ver manifestações da cultura negra em Joinville. Todos os anos na Semana da Consciência Negra são feitas homenagens aos afrodescendentes sepultados no Cemitério do Imigrante de Joinville.
O que é a Arte Funerária?
A arte funerária é mais que um simples ornamento, ela representa o imaginário coletivo de uma sociedade. Por meio de simbolismo, retrata para as pessoas um conjunto de ideias pertencente àquela comunidade.
A arte funerária varia com o período e acompanha cada estilo da época. É a representação de uma estrutura social e cultural. Está relacionada diretamente com os fatores sociais, econômicos e culturais de um povo. No final do século XIX e início do século XX essa arte atingiu seu clímax no Brasil devido ao grande número de imigrantes europeus, nesse caso, imigrantes católicos de origem italiana.
Sendo este um cemitério formado essencialmente por uma comunidade luterana, ou seja, fundamentada na simplicidade, pode-se observar que a grande maioria dos túmulos é muito simples. Com lápides geralmente de cimento, mas também algumas de mármore e porcelana, contendo informações básicas sobre a pessoa ali sepultada.
Mesmo assim, sem nenhuma ostentação como se vê em muitos outros cemitérios, pode-se encontrar aqui alguns exemplos da arte utilizada naquele período, assim como seus simbolismos.
- Coluna – representa a totalidade da vida de uma pessoa.
- Arco – representa a passagem entre a vida e a morte.
- Obelisco – exalta o falecido e representa a grandeza faraônica.
- Concha – que é comum desde os povos pré-cristãos, é associada a ressurreição e a fertilidade.
- Vasos – quando vazios, simbolizam o corpo separado da alma, com um pássaro na borda, a eterna felicidade e quando com um lírio, a anunciação e, se coberto por um manto, a tristeza.
- Anjo voando – significa a ressurreição
- Cruz vazia (sem o corpo de Jesus) – lembra a ressurreição e a esperança na vida eterna.
Casa da Memória
Anexo ao cemitério está a Casa da Memória, uma instituição pertencente a Fundação Cultural de Joinville. Além de servir como administração do cemitério e preservar a memória do município, também é sede da Sociedade Cultural Alemã de Joinville. A sociedade realiza todo primeiro domingo de cada mês, o projeto DOMINGOS MUSICAIS. As apresentações são ar livre, sempre as 10:30h da manhã e a entrada é franca.
O Cemitério do Imigrante/ Casa da Memória tem um roteiro estruturado de visitação para receber grupos de estudantes de diversos níveis, turistas e público em geral. Durante o percurso é evidenciado o patrimônio cultural, além de estimular uma reflexão sobre diversos temas como a memória de um povo, religiosidade, organização social e outros temas afins.
Atividades assim fazem com que o espaço tombado não seja destinado apenas a uma apreciação passiva, mas também como fonte de aprendizado.
Horário de visitação: segunda a sexta: das 10 às 17h (Sábados: com agendamento para grupos)
Endereço: Rua 15 de Novembro, 1.000 – Centro
Entrada: Gratuita
Informações: (47) 3433.3732
Talvez você também goste do post sobre o Instituto Juarez Machado, outro excelente ponto turístico de Joinville.
Espero que você tenha gostado deste artigo e que ele te inspire a conhecer locais não tão convencionais em suas próximas viagens.
Está procurando hotel para se hospedar em Joinville? O Booking.com tem ótimas opções. Fazendo sua reserva pelo nosso link, recebemos uma pequena comissão, mas você não paga nada a mais por isso. Apenas contribui com o blog. 😍
Foto em destaque por Rodrigo Madruga.
Esta foto é para você salvar no Pinterest.